"Os corações estão todos despedaçados pela diversidade dos interesses, roídos pela cega avareza, mordidos pela inveja, cobertos de chagas e feridas purulentas... de mentira, de covardia. Os homens são uns doentes, que têm medo de viver... perdidos como num nevoeiro... conhecendo apenas a sua própria dor. Mas eis que aparece um homem que ilumina a vida com o fogo da razão e grita.'Eh! pobres insetos perdidos! Chegou o tempo de compreenderem que têm todos os homens interesses e o mesmo direito à vida e ao desenvolvimento!' O homem que clama está isolado, sente-se triste e tem frio sozinho. E ao seu chamado, todos os corações se reúnem, formando um coração imenso, forte, sensível como um sino de prata. E este sino canta assim: 'Uni-vos, homens de todos os países, formai uma única família! A mãe da vida é a afeição e não o ódio!'
(...)
A terra está farta de suportar a injustiça e a dor; ecoa como se quisesse responder, saudando o novo sol que desponta no peito do homem!
(...)
Sabem? há ainda muitas dores reservadas aos homens; ainda muito sangue será derramado por mãos cruéis. Mas tudo isto, toda a minha dor e todo o meu sangue, nada são perante o que já possuo no meu cérebro, na minha medula, nos meus ossos! Já sou rico, como uma estrela é rica em cintilações. Suportarei tudo porque tenho em mim uma alegria que ninguém nem coisa alguma matará e que é a minha força!"

Máximo Gorki, pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov (1868
–1936), foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político
russo. Gorki foi escritor de escola naturalista que formou uma espécie de ponte
entre as gerações de Tchekhov e Tolstoi, e a nova geração de escritores
soviéticos.