Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Rio de Janeiro, 1946

Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, 1913 – 1980) foi um
diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro. Poeta
essencialmente lírico, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um
boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser
um grande conquistador. Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro,
cinema e música.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinicius_de_Moraes
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